“Y Ricitos de Oro comenzó a balancearse en la silla pequeña del osito hasta que ¡cataplum!, se rompió y la niña se cayó al suelo”.
-NO!!
Salta Nicolás como un resorte .
-Por quê nao? O quê nao? Ela estava a brincar e a cadeira rompeu-se...
-NO! ROMPEU-NA ELA! A silla rompeu-na ela- e pronuncia devagar apertando as celhas.
Tenho que assentir, sem qualquer dúvida, e continuar a leitura. Mas agora leio com essa certeza feliz de ter assistido à estréia do seu espírito crítico, afiado e subtil mesmo como o seu olhar.
quarta-feira, 30 de setembro de 2009
terça-feira, 29 de setembro de 2009
Outra quotidianeidade
segunda-feira, 28 de setembro de 2009
Improvisar a liberdade
A conversa com crianças pode ser mesmo perigosa. Podemos, os maiores, ficar engasgados na pausa que segue a uma pergunta, emaranhados no nosso próprio desconhecimento ou incapazes de traduzir para palavras quotidianas o que apenas sabemos com grandiloqüência. ´
Nicolás demora muito a comer e enquanto eu escovo os meus dentes, pronta para voltar ao trabalho, ele ainda mastiga os seus gravanços com tomate. Levanta-se na cadeira ajoelhado contra o respaldo e quase a cavalo dispara a sua pergunta :
-Olha mamai!
-mmm?? (ainda a escova na boca)
-O quê quere dizer “libertad”?
Felizmente não posso abrir a boca ainda, preciso limpar o sabão dos dentes e enxaguar. Disponho de uns segundos para optar por corrigir a sua incoerência bilíngüe e safar, deixar correr o tema, posso também chatear-me pelo seu comportamento mal sentado à mesa e sem comer, ou mesmo procurar palavras em filosofia aptas para os quatro anos.
-Mamai!
-Já vou... digo entre dentes. Estou quase decidida a tentar explicar. Mas de pronto tenho medo da armadilha. E se digo qualquer coisa que depois me vai arrojar reclamando a sua miúda liberdade?
Seco a boca. Desligo a luz do banho. Caminho e vou dizendo “senta bem, acaba o jantar, vou chegar tarde outra vez, Nico, ainda assim?” E só então é que falo:
-Libertad, diz-se também liberdade, Nicolás... em galego, liberdade....é.... pois..., liberdade é que tu sabes o que tens que fazer e ninguém tem que dizer-cho. Como ninguém te manda porque tu já sabes o que tens que fazer, pois então, és livre, tens liberdade...
Estou arrependida e tento sair da minha resposta:
-Também é o contrário de estar preso . O cão de Evellym está atado, não tem liberdade, mas a Susa está libre, não está atada, tem liberdade...
Nico continua a comer, concentrado, e eu ainda espero o boomerang da minha improvisada resposta.
Nicolás demora muito a comer e enquanto eu escovo os meus dentes, pronta para voltar ao trabalho, ele ainda mastiga os seus gravanços com tomate. Levanta-se na cadeira ajoelhado contra o respaldo e quase a cavalo dispara a sua pergunta :
-Olha mamai!
-mmm?? (ainda a escova na boca)
-O quê quere dizer “libertad”?
Felizmente não posso abrir a boca ainda, preciso limpar o sabão dos dentes e enxaguar. Disponho de uns segundos para optar por corrigir a sua incoerência bilíngüe e safar, deixar correr o tema, posso também chatear-me pelo seu comportamento mal sentado à mesa e sem comer, ou mesmo procurar palavras em filosofia aptas para os quatro anos.
-Mamai!
-Já vou... digo entre dentes. Estou quase decidida a tentar explicar. Mas de pronto tenho medo da armadilha. E se digo qualquer coisa que depois me vai arrojar reclamando a sua miúda liberdade?
Seco a boca. Desligo a luz do banho. Caminho e vou dizendo “senta bem, acaba o jantar, vou chegar tarde outra vez, Nico, ainda assim?” E só então é que falo:
-Libertad, diz-se também liberdade, Nicolás... em galego, liberdade....é.... pois..., liberdade é que tu sabes o que tens que fazer e ninguém tem que dizer-cho. Como ninguém te manda porque tu já sabes o que tens que fazer, pois então, és livre, tens liberdade...
Estou arrependida e tento sair da minha resposta:
-Também é o contrário de estar preso . O cão de Evellym está atado, não tem liberdade, mas a Susa está libre, não está atada, tem liberdade...
Nico continua a comer, concentrado, e eu ainda espero o boomerang da minha improvisada resposta.
quinta-feira, 17 de setembro de 2009
Armadilha ortográfica
Bolachas na boca e ainda cacos de sono nos olhos.
-mmm.... olha mamai, já sei que não se pode dizer palavrões, mas.. .
-Nico, não digas palavrões, já o sabes.
Pelo brilho do seu olhar já sei que vai ser complicado.
-Que não mamai, que já sei que não se pode, mas quero fazer uma pergunta: com quê letra é que se escreve “merda”
-Nico!!
-Que não! Que não vou dizer, mas com que letra é que se escreve “merda”?
-Dou-me por vencida e concedo: com eme, Nico, com eme... Mas não repitas. Acaba de almorçar.
-Ah! Com eme....
E continua a comer bolachas, satisfeito.
-mmm.... olha mamai, já sei que não se pode dizer palavrões, mas.. .
-Nico, não digas palavrões, já o sabes.
Pelo brilho do seu olhar já sei que vai ser complicado.
-Que não mamai, que já sei que não se pode, mas quero fazer uma pergunta: com quê letra é que se escreve “merda”
-Nico!!
-Que não! Que não vou dizer, mas com que letra é que se escreve “merda”?
-Dou-me por vencida e concedo: com eme, Nico, com eme... Mas não repitas. Acaba de almorçar.
-Ah! Com eme....
E continua a comer bolachas, satisfeito.
domingo, 13 de setembro de 2009
kanji
Tenía este papel azul en un joyero de cristal lleno de collares y pendientes. Es un poema japonés que, en su día, me copió Marc. En su día: cuando él estudiaba japonés y me habló de los kanjis, esa manera de expresar con palabras lo que sintetiza un gesto, una evocación. Recuerdo la cafetería en que lo escribió, recuerdo que éramos muchos y que había ruido. Me pareció precioso.
Los colores son fragantes
Pero se apagan
En este mundo
Nada es eterno
La alta montaña de las ilusiones
Hoy he atravesado
Y no habrá más sueños suaves
Y nunca más me embriagaré
Marc escribió junto al texto japonés la traducción literal:
Colores (son) fragantes
Gastarse pero
Nuestro mundo aquí
Usual (siempre) si fuera
Tener bienestar interior montaña
Hoy he pasado
Poco profundo sueño ser visible
Borracho yo más no
Y lo más increíble es la hermosura que yace en lo absurdo de la literalidad.
No. Lo más increíble es guardar el papel en que está escrito y también lo más hermoso.
quinta-feira, 10 de setembro de 2009
Eduardinho
Eduardo não sabe ainda abrir os olhos, nem brincar. Abre a boca apalpando o ar e procura o sabor do leite pelo que corre a vida. Os seus dedos acariciam devagar esse vazio que enche o seu cheirinho de recém nascido até ao calor da mãe onde o seu corpo não termina. Os seus dedinhos miúdos conhecem esse corredor que nós perdemos.
Ela, a mãe, tem hoje esse olhar de quem mora no sossego. Esse olhar de remanso onde descansa a luz.
Ela, a mãe, tem hoje esse olhar de quem mora no sossego. Esse olhar de remanso onde descansa a luz.
terça-feira, 1 de setembro de 2009
La voz del miedo
Un paseo en bici antes del anochecer. Las gallinas se han ido a dormir antes de que el sol deje enfriar el aire. Primero cae el silencio y detrás los perros. Soy vulnerable y extraña sobre las ruedas. Despacio. A mi paso ladran detrás de los portalones. Son perros irritados que levantan la voz. Ladran cuando me acerco e insisten cuando ya me he ido. Los ladridos se contagian y diseñan ecos caprichosos. Dibujan un camino que parece de ira, pero es de miedo. Me paro. La aldea, el valle, los caminos en sombra se estremecen, están temblando. Cuanto más ladran, más pavor esconden detrás de sus puertas. Volverá el día y dormitarán al sol, las gallinas puntuarán correctamente las frases del bienestar. Pero la noche no miente y siempre nos despoja.