Fala desde o seu quarto, meio adormecido. Fala sem levantar a voz porque sabe que eu escuto perfeitamente trás a parede, também na cama. A sua voz pequeninha fica suspendida no ar quedo da noite.
-Mamai, às vezes quando choro pela noite, ainda tenho lágrimas nos olhos de manhã.
-Mas estarão secas, Nicolas...
-Sim, estão secas. É porque são salgadas.. não sao doces, não se podem beber. São como de água do mar...
-Pois é.. como água do mar...
-Mamai..
-Qué...
-Mas não é água do mar as lágrimas.. porque se fossem água do mar haviam de ter espinhas e caracolas.. e areias.. e não têm...
-Claro que não...
-Que estranho! Dá um arrepio pensar nisso mamai.. ia doer muito chorar!
-Dá, Nicolás.. não penses mais.. não é água do mar.. Tenta dormir...
E adormece. Na escuridão pousa a voz da criança como pousam os insectos quando falta a luz. Ainda não sabe o Nicolás, que sempre dói muito chorar.
E é das espinhas que se chora.
ResponderExcluirÉ.
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