A sua voz chega pelo corredor com passos de rato precavido:
-Mamáaa...
Já é noite mas o sono de Nicolás tem a mesma rebeldia desta luz que ilumina Maio.
-Já vou, Nico, já vou. Termino de arrumar a cozinha e já vou contigo.
E então um silêncio de vaga, a voz que se levanta e nas pontas dos pés, esticada, grita:
-Sempre falas mentiras! Quando falas agora vou, um momentinho, dizes mentiras!
Não respiro. Recebo o golpe e caminho devagar pelo corredor. Não está zangado, abraço-o e, covarde, ainda insisto:
-Não é mentira, é que às vezes quando eu chego cá, já estás adormecido.
E os seus beijinhos, que perdoam, chegam até à raíz de mim mesma.
José Luís Peixoto na Feira do Livro de Miami, 2024
Há uma semana
Tu Nico es genial Pau, y tiene suerte de tener una madre como tú.
ResponderExcluirToda la suerte es mía! Gracias lulú.
ResponderExcluir