segunda-feira, 18 de maio de 2009

Mentiras

A sua voz chega pelo corredor com passos de rato precavido:
-Mamáaa...
Já é noite mas o sono de Nicolás tem a mesma rebeldia desta luz que ilumina Maio.
-Já vou, Nico, já vou. Termino de arrumar a cozinha e já vou contigo.
E então um silêncio de vaga, a voz que se levanta e nas pontas dos pés, esticada, grita:
-Sempre falas mentiras! Quando falas agora vou, um momentinho, dizes mentiras!
Não respiro. Recebo o golpe e caminho devagar pelo corredor. Não está zangado, abraço-o e, covarde, ainda insisto:
-Não é mentira, é que às vezes quando eu chego cá, já estás adormecido.
E os seus beijinhos, que perdoam, chegam até à raíz de mim mesma.

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