É um copo cinzento.
Não. Não é. É um copo opaco e sem brilho maltratado pelo lavalouça. É um copo opaco batido pelo tempo. Um sobrevivente dos jantares e das mãos apressadas. Dos lábios que o beijaram para beber entre palavras cruçadas.
É um copo velho e como é velho parece cansado e, quase por compaixão, não deixo nunca chegar até à mesa.
Ontem ficava toda a louça por lavar e peguei então no copo, lá no fundo da vitrina.
O Nicolás fez uma festa:
-Bem! Por fim! Gosto imenso deste copo mamai! é tão lindo! assim todo ele cinzento. Tem uma cor linda...!
E mesmo levanta o copo para olhar a contra luz...
-É precioso! por quê é que temos apenas um?
É um copo cinzento. Não. Não é. É um copo opaco e sem brilho maltratado pelo tempo.
José Luís Peixoto na Feira do Livro de Miami, 2024
Há uma semana
É um copo precioso, cinzento, feito pelo tempo amodinho.
ResponderExcluirAgora também eu posso ve-lo assim. É o olhar que temos sobre as coisas...
ResponderExcluirCuantas veces uno se ha sentido como un copo cinzento y una mirada limpia, afectuosa nos ha hecho sentir bien? Quiero ser capaz de mirar así, hace mucho que lo intento.
ResponderExcluirprecioso esto que has escrito, mi niña, precioso.
Beijinhos
Yo diría que lo has conseguido.. eso de mirar así... pero si tú crees que todavía no, dejaré camino de la sublimación... :))
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