Hoje brilhou o sol e cortamos narcisos amarelos. O homem velho perguntou: sabes coser? E eu senti o fraco arranhao de quase nostalgia em quanto assentia: Sei.
Depois o sol que entrava na galeria ficava nos meus cabelos e na minhas maos. Eu cosia. Era uma mulher e cosia sentada sob a luz. Apenas isso. Fora os pássaros e a criança. Dentro o velho que espera e caminha a carregar reticências da vida, devagar, arrastando os pés.
Á noite morreu a luz e havia um céu assombrado de estrelas. Brilhava o frio. Escrevi uma nota triste. Mas ele disse: “Gosto de como escreves” Sorriso. “Não. Eu gosto da tua mao escrevendo na folha de papel”. Amo-te porque sabes ver a minha mao agora . A mesma mao que cose e apanha narcisos amarelos.
José Luís Peixoto na Feira do Livro de Miami, 2024
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