segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Pour plaisir (d´écrire)

Atravessou a rua e entrou na tasca que ficava na esquina. Era uma tasca de homens onde o cheiro a tabaco velho nas paredes invitava a sair. Arrastou os olhares com elegância, como uma cauda, como se fossem dela, e pediu um corto de cerveja. Em certos momentos a ousadia dos homens é menos brilhante que o medo ao ridículo, e por isso o silêncio que provocaram os seus saltos altos voltou a transformar-se. Primeiro um cochichar turvo, depois vozes e risos como se ela não estiver ali. Ali, de pé no balcão do bar, calada e vertical, bebendo a cerveja.
Aquele local estava em aquele recanto mesmo desde antes de existir a rua, quando as casas pareciam reticências a duvidar do futuro da cidade. Ela morava em aquela rua antes que as reticências tivessem número de portal. Antes de chegarem as calçadas. Mas nunca, em tantos anos, atravessara a porta do bar.

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