Foi o último dia de escola. Os mais pequenos cantaram uma divertida canção de moscas e pão. Davam voltas e Nicolás, numa volta, viu a mamá a tirar fotografias.
-É a minha mamá! Está lá a mamá!
Perdeu o ritmo, mas não tinha importância, nessa altura iam todos ao seu, cada um ao seu passo.
Baixou do cenário e com um sorriso como um presente fez aceno de achegar-se a mim, mas de caminho decidiu seguir a bicha dos companheiros, disciplinado, e apenas deixou no ar um “adeus” que tinha um claro sotaque de “bah-vejo-te-depois”.
À noite, debulhando o dia, contou-me:
-Estavas ali, mas não fui dar um beijinho.
-Não, disseste “bah” e foste com os teus companheiros, mui bem. Como ordenava a profe.
-Sim, mas sabes? Outra vez vai haver escola, e vai haver o último dia, e vamos cantar uma canção e tu vas ir ver como cantamos. E então eu vou dizer, está lá minha mamá, e depois vou baixar e não vou dizer “bah”, vou baixar e dar um beijinho para mamá e depois vou com os meus amigos.
E fica adormecido com o dia corrigido e uma matrícula de honra no peito de mamá.
José Luís Peixoto na Feira do Livro de Miami, 2024
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