Depois da tormenta, na calma da noite, protegidos pela morna luz do quarto e as palavras pacientes dum livro de contos.
-Tiveste medo pelos raios, Nicolás?
-Nao, mamai, é que às vezes os dias ladram...
-Ladram?
-Si, os dias ladram.
Fico um bocado parada tentando compreender a sua capacidade inata para a metáfora. Mesmo invejando a frase.
-Mas Nicolás, quem disse isso? como é que os dias ladram?
Entao sorri e abre simplesmente os braços, palmas com a verdade exposta:
-Disse-mo Deus, claro! Ele sabe tudo.
Silêncio. Ele ainda nao sabe que eu nao acredito em Deus.
-Nico, sabes? Isso que fizeste chama-se poesia.
-Poesia?
-Poesia.
-Nao sabia
E continua a procurar no livro de contos o que leremos esta noite.