Nicolás tem uma boneca, chama-se Pásia. Dorme com ela e fala baixinho para não perturbar o seu sonho de pestanas mal penteadas.
Nicolás tem uma boneca e duas amigas. Candela às vezes vem por casa e fica com ele a passar a noite. Evelim achega-se quase todas as tardes, mas sempre vai embora antes de cear.
Candela e Nicolás brincam a serem os papás de Pásia.
A outra tarde Evelim pegou em Pásia, abraçou e falou com carinho a dizer que era ela a sua mamá. Eu procurava na cozinha uns gelados para a merenda. Então o Nicolás ficou zangado e levantou a voz como uma espada:
-Mas não! Tu não es a mamá de Pásia, a mamá é Candela!! Tu es a irmã de Pásia!
A menina ficou em silêncio. A pequena Evelim analisa os problemas e as ofensas com paciência antes de saber se é preciso responder, chorar ou procurar ajuda.
Senti lâstima e falei-lhes:
-Mas Nicolás, Candela não está, hoje pode ser a Evelim a sua mamá. Tu es o papá mesmo...
O Nicolás nao admitiu:
-Mas não mamai, a Candela é a mamá ainda que nao esteja cá. Sempre é a mamá. A Evelim é a irmá, ou a tia... mas não pode ser a mamá. Não há duas mamás!
José Luís Peixoto na Feira do Livro de Miami, 2024
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