Sabe que não se podem dizer palavrões, mas a tentação é muito grande e procura sempre o jeito de pronunciar.
-Olha mamai, não vou dizer palavroes, mas vou desenhar.
Colhe a quadro magnético e faz uma garatuja com ar de artista enraivecido.
-Já está! Desenhei “merda”. “Merda” é um palavrão feio! Olha como é feio! Agora vou desenhar “joder”, que é ainda mais feio!
E mais uma vez endemoninhado, garatuja linhas curvas e riscos violentos por todo o quadro.
-Mas Nicolás, isso nao está bem. Os palavrões nao se falam e também nao se pintam. Deixa essa brincadeira.
-Vaaaleee- concede com a sua pequena paciência de quatro anos, da que apenas experimentou o gesto da cabeça e tom da voz–Vou desenhar agora palavrões boínhos.
-E posso saber quais são os palavroes boínhos, Nicolás?
-Pois é, mamai, são os que se podem dizer e não se passa nada, por exemplo “será possível”, “me cachis”, “jolín”... “me caho na mar”...
-“Me caho na mar” não, Nicolás, também é feio...
-Vaaale...- outra vez concede- vou desenhar “jolín”!
E então, com calma, desenha um círculo com um diámetro que o cruza num sorriso amável. E depois continua com outras interjeições variadas, que também têm olhos e nariz, que são mais grandes ou mais pequenas... E eu penso que o Nicolás, com a sua cabecinha de criança, está a fazer a fantástica descoberta da linguagem.
José Luís Peixoto na Feira do Livro de Miami, 2024
Há uma semana
Qué gusto me da verlos hacer esas cosas! Estoy viendo esa cara de estarte retando que pone Nico! Me encanta!
ResponderExcluirBesos
A mí, educación a un lado, también me encanta!
ResponderExcluirQué bonito eso de dibujar las palabras! Voy a tratar de dibujar alguna, a ver que me sale, aunque no tenga ya la frescura de un niño de cuatro años.
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