Vamos no carro, eu guio e o Nicolás balouça-se no sono.
-Mamai, vou adormecer.
-Tamos a chegar.. falta um bocadinho.
-Já sei mamai, mas canta-me uma canção... só um instante...
E eu lembro qualquer coisa muito doce, começo a cantar um velho poema musical de Marc Gasca.... mas depois de repetir mudo a melodia e sem palavras vou cantarolando El Cant dels Ocells. Penso que ficou adormecido e olho para trás: é o rosto da tristeza. Duas lágrimas lentas percorrem a suas bochechinhas pelo curso de outras, a boca contorce-se num aceno de angústia e a sua cabecinha toda aperta-se contra as paredes da cadeira na procura de não ser visto. Entao encontra os meus olhos e desaba o pranto.
-Nicolás, Nicolás, o quê acontece??? !!! – dou-lhe a mao esticando o braço. Pega nela e chora sem remédio.
-É muito triste mamai, é muito triste.
Chegamos a casa e depois dos abraços, conto para Clara... mas o quê lhe cantaste mamai, pergunta a ela. E como eu começara:
-Deixa lá, mamai, não continuas, já bem sei, já sei...
Lembro então: a ela, acontecia-lhe o mesmo.
(Não se vale dizer que a mamai desafina... não se vale).
José Luís Peixoto na Feira do Livro de Miami, 2024
Há uma semana
caramba! mi total admiración si eres capaz de tararear eso! ahora, triste, es muy triste...a la próxima prueba con un adagio que seguro que hasta sonríe! :)))
ResponderExcluires broma! y bueno...seguro que no desafinas???
ResponderExcluir... bueno, no mucho, creo. :(
ResponderExcluirA ver se o rapaz chorava pelo muito que a mamãe desafinava?! É bem triste uma mãe a desafinar. ;)
ResponderExcluirÉ triste, mas nao era isso! ;))) É sensibilidade da criança... Beijinhos Sun Iou Miou.
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