Um elefante num poço

Há dias que Nico interrompe silêncios e conversas com uma mesma pergunta.
-Olha, mamai, como é que pode sair um elefante de um poço?
A primeira vez, calamos, rompemos a rir e depois calamos de novo, contagiados pela seriedade do seu olhar. Para ele não parece ser um dilema muito engraçado.
-Como é que pode sair um elefante dum poço?
A segunda vez, tentamos responder:
-Voando com as orelhas!
- Não, mamai, essa não é a resposta correta.
-Sujeitando-se com a trompa!
-A-a... Essa não é a resposta correta.
-Vaziando o poço com a trompa e depois e depois a caminhar...
-O poço é muito profundo, essa também não é a resposta correta, mamai.
-Talvez com uma grua....
A pergunta foi feita pela mestra de Nico, talvez para fazê-los pensar, mas a verdade é que estes dias, na intimidade do carro pela estrada, sob a bilha da ducha, no vagar do pensamento na cozinha, no instante de adormecer... achei na minha cabeça essa pergunta a bater estupidamente, porque como é que pode sair um elefante dum poço?
É preciso reparar no olhar preto e sério de Nico, na sua nacente angústia, quando pronuncia devagar a sua pergunta.