São poucas e são só mulheres. Entram pela porta da cabeleiraria, em silêncio, brevemente e com a voz baixa mastigam um boa noite e fazem uma genuflexão com os lábios que é de longe um sorriso. Chegam a destempo mas todas fazem o mesmo: atravessam o salão onde outras se penteiam e descem por uma escada afastada e escura. Uma a uma. Fora a noitinha lambe friamente as ruas e as pinta de azul e de faróis estrelados.
A primeira em chegar veste roupas escuras e saltos altos. Os cabelos apressadamente recolhidos e os passos rápidos e breves, num ritmo que a tiraniza. A segunda é uma mulher madura que caminha com certa dificuldade. O rosto é sério e as olheiras azuladas. A terceira leva da mão uma criança, a criança leva na mão um barco e os bolsos carregados de piratas miúdos que parecem surpreendidos da paisagem. Continuam chegando, até cinco mulheres, talvez seis.
Descem as escadas e no sótão vão deixando os casacos. Há pouca luz mas na penumbra brilham as paredes de espelhos. Abrem as sacas e num instante um tilintido alegre corre pela quarto. A criança, sentada num tapete, escuta o som e espera a transformação dos insetos. O chocalhar muda em saias de cores e ventres nus. A música corre pelas paredes e os sorrisos iluminam todas as caras. Abrem os braços. Todas elas são agora dançarinas, amadoras da vida e adictas ao ritmo. Clandestinas escapadas da jaula da rotina.
José Luís Peixoto na Feira do Livro de Miami, 2024
Há uma semana
Y cumplen con el rito de bailar al unísono esos sonidos antiguos, tanto como los lazos que, aún sin quererlo, las unen.
ResponderExcluirGracias. Hermosísimo querida pau. Irresistible.
Beijinhos
Eso es, Amalia, eso es lo que quería decir, pero tenía demasiado sueño... ;))
ResponderExcluirbeijinhos.
Puedo llevármelo a mi blog?
ResponderExcluirBjs
Sería un honor! Pero con tu frase final, sino está cojo! beijinhos.
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