Lemos o conto da noite, sentados na cama. A luz tem a medida deste recanto pequeno em que existimos sozinhos. Ele apóia a cabecinha cansada no meu ombro. Eu leio uma aventura de submarinos e homens arriscados. De pronto interrompe, sinala o meu pescoço e adverte:
-Olha mamai, o quê tens no pescoço?
Eu levo a mão e não percebo:
-Não sei Nicolás, o quê tenho?
E com essa voz pequenina que envolve a verdade como se fosse de vidro:
-Mamai, estás um pouco velhinha...
A verdade não dói. Acaricio a sua face e sorrio:
-Pois é, Nico, tou um pouco velhinha.
Mantém um bocado o seu olhar na minha pele. Não sei o que pensa. Beija-me devagar, como quem limpa uma ferida e o conto continua entre as aranheiras do sono.
A verdade do espelho, também é de vidro.
José Luís Peixoto na Feira do Livro de Miami, 2024
Há uma semana
Qué manía tienen estos niños con vernos mayores! Con lo estupendas que estamos (ahora que casi nadie nos oye) :-))
ResponderExcluirhe de reconocer que ultimamente yo también me veo um pouco velhinha...y no me molesta...
beijos