Mais uma vez deitados na escuridão do quarto. Debulhar o dia. Falar por falar. Somos animais: eu, a mama baleia. Ele, o bebê baleia.
-Agora sopra e acaricia-me como fazem as baleias.
-sshhh... – e também afago os seus cabelos e a sua carinha feita precisamente de ar.
- E, olha mamai, quando eras pequena, quem era teu irmão?
Eu bem sei, vontade de falar, que ele bem sabe:
-Meu irmão era o R. e a minha irmã a N.
- E a avó por quê é que ela morreu?
- Morreu porque era muito velhinha, e ainda porque estava um bocadinho doente e muito cansada... Mas olha Nico, vou terminar de arrumar a cozinha que já e tarde. Tens de dormir.
E então se move com jeito de lagartixa e abraça-me com todo o corpo miudinho:
- Não, não! Ainda não, um bocadinho mais, só um bocadinho!
-Mas Nico, se eu ficar aqui não vas adormecer... tamos a falar, a falar e não dormes....
-Sim mamai!, eu adormeço, olha para mim!
E fecha os olhos, fica calado. Mas de pronto um olhar que brilha, apenas o olhar dum olho, o outro fica preso pelo dedo que aperta e não deixa abrir. O olho grande e aberto, sozinho, está a rir:
-Olha mamai, vale com fechar um?
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